sexta-feira, 25 de abril de 2014

"La Cage" por Edgar Georges

Hamsters, réveillez-vous
la paille vous attend, là-bas
et les regards qui vous fustigent lorsqu’on recherche l’absolu
Une maison, de beaux vêtements, des voyages…
Réveillez-vous et brisez l’algorithme du monstre qui vous écrase !
La marguerite un jour n’aura plus de pétales
Le vent tournera sous ce ciel cristallin
Les bols de jouvence seront bientôt vidés
La foret n’aura plus de secrets, plus de charme
Et sur le chemin de la cage ils diront : “Marchons tout droit vers la liberté !”
Donnez-moi raison, laissez-moi crier
Pour nous tous
Du haut de la colline
Que la pureté revienne

sexta-feira, 18 de abril de 2014

De "Cem Anos de Solidão" por Gabriel Garcia Marquez


"Foi Aureliano quem concebeu a formula que havia de os defender durante vários meses das evasões da memória. Descobriu-a por acaso. Perito da insónia por ter sido um dos primeiros, aprendera na perfeição a arte da ourivesaria. Um dia andava à procura de uma bigorna pequena que costumava usar para laminar os metais e não se recordou do seu nome. O pai disse-lho: “Tás”. Aureliano escreveu o nome num papel e colocou-o na base da bigornazinha: Tás. Assim teve a certeza de não o esquecer no futuro. Não lhe ocorreu que aquela fosse a primeira manifestação do esquecimento, porque o objecto tinha um nome difícil de recordar. Mas, poucos dias depois, descobriu que tinha dificuldade em lembrar-se de quase todas as coisas do laboratório. Então marcou-as com o respectivo nome, de modo que lhe bastava ler a inscrição para as identificar. Quando o pai lhe comunicou o seu alarme por ter esquecido até os acontecimentos mais importantes da sua infância, Aureliano explicou-lhe o seu método e José Arcadio Buendía pô-lo em prática por toda a casa, impondo-o mais tarde a toda a aldeia. Com um hissope cheio de tinta, marcou cada coisa com o seu nome: mesa, cadeira, relógio, parede, cama, caçarola. Foi ao estábulo e marcou os animais e as plantas: vaca, cabra, porco, galinha, jucá, malanga, bananeira. Pouco a pouco, estudando as infinitas possibilidades do esquecimento, deu-se conta de que podia chegar o dia em que se reconhecessem as coisas pela inscrições mas em que não se lembrasse da sua utilidade. Então foi mais explícito.  O letreiro que colocou no cachaço da vaca era uma prova exemplar de como os habitantes de Macondo estavam dispostos a lutar contra o esquecimento: é esta a vaca. É preciso ordenha-la todas as manhãs para que dê leite e é preciso ferver o leite para o misturar com café e fazer café com leite. Assim continuaram a viver numa realidade escorregadia, momentaneamente capturada pelas palavras mas que havia de fugir-lhes irremediavelmente quando se esquecessem dos valores da letra escrita.
Na entrada do caminho para o pântano tinham posto um cartaz que dizia Macondo e outro, maior, na rua central que dizia Deus existe."

De "Ossóptico" por António Maria Lisboa

(Ventoinha d’Ouro é a ti que eu amo, candelabro de cera liquida é de ti que eu gosto, imagem louca é a ti que eu possuo no nosso leito macio como uma violeta de uma só pétala de seda e veludo, de dia, de noite, no uivo do bicho pré-histórico que anda alma-penada a existir connosco. Sobre um tambor de pele-humana a tua figura maldita – teu peito de prata, tuas pernas de lua. Tombaram-te os olhos e sou eu ainda que te procuro-encontrando).